Arquitetura Hostil Intensifica Desigualdade nas cidades de grande turismo
Você já se perguntou como seria viver em uma cidade onde cada espaço parece ter sido projetado para afastá-lo? Imagine andar pelas ruas e perceber que os bancos têm pinos de metal para impedir que você se sente ou que as calçadas são repletas de obstáculos para dificultar sua passagem. Essa não é uma distopia futurística; é uma realidade presente em muitas metrópoles ao redor do mundo, intensificada durante grandes eventos como as Olimpíadas.
O Que é Arquitetura Hostil?
A arquitetura hostil, também conhecida como arquitetura defensiva, se refere ao design de espaços urbanos que é intencionalmente planejado para restringir comportamentos indesejados. Exemplos comuns incluem:
- Bancos com divisórias para evitar que pessoas deitem.
- Picos ou espinhos em superfícies planas para afastar moradores de rua.
- Estruturas que dificultam o acesso de skatistas.
Um dos grandes problemas é que essa prática reflete uma tentativa de “esconder” problemas sociais em vez de enfrentá-los, criando cidades que rejeitam a convivência inclusiva e empurram os marginalizados para fora dos espaços públicos.
Embora essas medidas sejam frequentemente justificadas, pareçam belas ou sao argumentadas como como formas de manter a ordem e a limpeza, elas também têm o efeito colateral de marginalizar ainda mais os segmentos vulneráveis da população.
Impacto nas Olimpíadas
Durante os Jogos Olímpicos, as cidades anfitriãs recebem uma quantidade massiva de visitantes e atenção da mídia mundial. Isso coloca uma imensa pressão sobre os governos locais para apresentar uma imagem de modernidade e eficiência. Infelizmente, isso muitas vezes resulta em práticas de arquitetura hostil sendo levadas ao extremo.
Exclusão de Populações Vulneráveis
Um dos efeitos mais prejudiciais da arquitetura hostil durante as Olimpíadas é a exclusão de populações vulneráveis. Os moradores de rua, por exemplo, são frequentemente deslocados à força ou encontram ainda menos lugares seguros para descansar. As cidades são remodeladas para privilegiar turistas e atletas, deixando de lado as necessidades dos residentes permanentes.
Gentrificação
Outro fenômeno comum é a gentrificação exacerbada. Áreas que antes eram acessíveis a comunidades de baixa renda são “revitalizadas” para atrair investimentos e turistas, resultando em um aumento nos preços de aluguel e no custo de vida. As Olimpíadas acabam por acelerar processos de exclusão econômica e social.
Casos Notáveis
A cada edição dos Jogos Olímpicos, vemos exemplos claros do uso da arquitetura hostil. Vamos explorar alguns casos significativos:
- Rio de Janeiro 2016: Muitas favelas foram removidas ou escondidas atrás de muros de concreto para não serem vistas pelos visitantes. (Fonte)
- Londres 2012: A construção do Parque Olímpico resultou na remoção de centenas de pessoas de suas casas, com áreas sendo requalificadas para atrair turistas.(Fonte)
- Paris 2024: Medidas como picos embaixo de pontes e estruturas para impedir mas foram além com uma verdadeira limpeza Social, afastando a pobreza do foco dos jornais dos olhos dos turistas . (Fonte)
Soluções Possíveis
Para substituir a arquitetura hostil de maneira eficiente e humana, é fundamental adotar soluções que promovam a inclusão social e respeitem a dignidade de todos. Embora seja possível implementar alternativas de curto prazo, o ideal é que, a longo prazo, as cidades deixem de precisar de mecanismos que afastem pessoas, tornando-se locais acolhedores e democráticos para todos.
Aqui estão algumas propostas para construir cidades mais inclusivas, tanto do ponto de vista urbanístico quanto social:
- Desenvolver programas de saúde pública voltados ao apoio de dependentes químicos, oferecendo tratamento e acolhimento adequado;
- Ampliar a assistência social, garantindo que as pessoas mais vulneráveis tenham acesso a serviços básicos e às suas necessidades mais urgentes;
- Criar políticas habitacionais, focadas em fornecer abrigo e suporte àqueles em situação de rua, dando-lhes uma chance real de recomeço;
- Reduzir a desigualdade social por meio de políticas públicas que promovam a inclusão econômica e social, diminuindo as disparidades entre diferentes grupos;
- Revitalizar os espaços públicos, tornando-os convidativos e acessíveis para toda a população, independentemente de classe social;
- Fomentar a economia local, gerando oportunidades que permitam a todos ter acesso ao trabalho e, consequentemente, melhorar suas condições de vida.
A arquitetura hostil surge como um reflexo da falha em promover essas mudanças necessárias, revelando o desequilíbrio nas ações públicas e privadas que deveriam garantir oportunidades e acolhimento para todos.
Então, é o seguinte
Em resumo, não adianta tentar “tapar o sol com a peneira”. Vivemos em um mundo onde as informações estão mais acessíveis e as realidades sociais cada vez mais difíceis de serem mascaradas. A arquitetura hostil não resolve a questão da vulnerabilidade social, apenas empurra o problema para longe dos olhos, como se fosse possível ignorar essas questões.
E você, concorda com os pontos abordados neste artigo? Tem alguma experiência ou opinião sobre o tema? Deixe seu comentário e participe dessa discussão tão importante para a construção de cidades mais justas e humanas.